6.08.2010

Alqueva: que princípios para a constituição de um destino turístico?


O turismo assume um papel cada vez mais relevante nos domínios económico-social, o qual é reconhecido através da sua integração nas prioridades das políticas de desenvolvimento nacionais, regionais e locais. Sublinhe-se o facto, deste sector contribuir aproximadamente para a criação de 219 milhões de empregos directos e indirectos, correspondendo a cerca de 7,6% do total mundial, bem como por 9,4% do PIB mundial. Apesar da quebra de optimismo provocada pela actual crise económico-financeira, as projecções e tendências para a actividade turística são de menor pessimismo, na medida em que segundo a Organização Mundial de Turismo, em 2009 o sector do turismo sofrerá uma ligeira quebra, entre 1% a 2%, no indicador das chegadas turísticas internacionais aos aeroportos. Portugal surge em 19.º lugar no ranking mundial dos destinos turísticos, registando em 2007, cerca de 12,3 milhões de chegadas turísticas internacionais aos aeroportos, reflectindo-se em 7.652 milhões de euros de receitas turísticas. No caso da região Alentejo, desde a década de 90 do século passado, regista-se uma assinalável ascensão na sua representatividade e competitividade turísticas, traduzindo em 2008, segundo dados publicados pelo INE, pouco mais de 1 milhão de dormidas nos estabelecimentos hoteleiros e cerca de 200 mil dormidas em estabelecimentos de Turismo no Espaço Rural.
O Alentejo, dadas as peculiares características territoriais e culturais, deverá gizar a sua afirmação turística planeando e construindo um destino integrado na óptica da sustentabilidade dos seus recursos e na capacidade de identificar e projectar os seus reais elementos diferenciadores. Neste sentido, a singularidade provocada pelo surgimento do maior lago artificial da Europa propiciou um desafio para os diversos stakeholders da actividade turística regional, provocando a legítima expectativa de potenciar a criação de um destino turístico no Alqueva. No entanto, será premente acautelar que para a conceptualização de um destino dever-se-á identificar e caracterizar o espaço territorial mediante a análise da sua homogeneidade em termos geográficos (na qual se incluem as acessibilidades e sinalética); constituir uma oferta turística estruturada (na perspectiva do visitante será importante ter em conta que, o produto global que se proporciona incorpora uma experiência complexa que se baseia nos recursos oferecidos pelos agentes turísticos locais e outros serviços e produtos locais) e não menos importante promover uma comercialização conjunta e agregada de todas as componentes da oferta turística local.
Tais premissas de análise deverão, no caso da área territorial do Alqueva merecer o devido diagnóstico e empenhamento, pelo que, será necessário garantir que a sua sustentabilidade enquanto destino turístico se pautará pela promoção da qualidade de vida das comunidades residentes nas vertentes económica, social e ambiental, bem como, na garantia da constituição de um destino competitivo no contexto nacional e internacional que resulte na satisfação de todos os actores desse destino, a saber: - visitantes, residentes, empresários turísticos, órgãos governamentais e não governamentais. Particularizando a análise na estruturação de um futuro destino turístico do Alqueva, julga-se que um dos elementos catalisadores para a sua diferenciação será a garantia de qualidade ambiental. Não obstante, alguns especialistas e investigadores sublinham que a qualidade ambiental tende a diminuir à medida que o destino turístico avança nas fases do seu ciclo de vida (Exploração, Desenvolvimento, Consolidação e Estagnação). Este padrão de evolução cria uma situação insustentável caracterizada por problemas ambientais, sociais e económicos. Tendo em consideração todos estes e outros aspectos de análise para a constituição de um destino turístico em Alqueva, dever-se-á indubitavelmente garantir a adopção dos princípios consignados pela Carta Europeia de Turismo Sustentável.
Jaime Serra (2009)